sexta-feira, 30 de novembro de 2007

EU DEIXAREI


Eu deixarei que morra em mim

o desejo de amar os teus olhos que são doces.

Porque nada te poderei dar senão a mágoa

de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida.

E eu sinto que em meu gesto, existe o teu gesto,

e em minha voz, a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser

tudo estaria terminado.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.

Para que eu possa levar uma gota de orvalho

nesta terra amaldiçoada.

Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás

a tua face em outra face,

teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,

porque eu fui o grande íntimo da noite.

Porque eu encostei minha face na face da noite

e ouvi a tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência

do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só,

como os veleiros nos portos silenciosos.

Mas eu te possuirei mais que ninguém,

porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar,

do vento, do céu, das aves, das estrelas,

serão a tua voz presente,

a tua voz ausente,

a tua voz serenizada.

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